quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O MEDROSO


Paulo era um rapaz muito reservado e tímido. No ensino fundamental ficava solitário em um canto da sala, sem manifestar-se durante as aulas quando os professores questionavam os alunos. Paulo ou Pauly como era conhecido, tinha as melhores notas da turma. Entretanto, enfrentava um problema que o perturbaria para toda vida. Tinha diversas fobias, dentre elas agorafobia,aracnofobia e outras situações de pânico e terror. Sempre que ia para a escola precisava atravessar a rua, pois era próxima de sua casa. Mas Pauly, ao sair de casa tinha medo de ser atropelado por um carro que passasse. Não podia esperar porque costumava atrasar na saída de casa, por causa do medo de enfrentar o mundo externo. E para evitar que a crise de pânico viesse tinha que desafiar o medo e tentar enfrentá-lo. Mas imediatamente se recolhia na calçada esperando uma oportunidade de se libertar do transito. Finalmente chegava a sala de aula ainda em tempo, sentava-se nas últimas carteiras esperando o restante da turma entrar nas aulas. Era assim todos os dias. Algumas vezes quando via uma aranha no teto da sala de aula, não gritava mas chorava cabisbaixo. Os professores nem lhe davam atenção. Nem mesmo os colegas. Um ou outro o atentava na hora do recreio. Pauly entrava em pânico quando chegava um garoto temido por toda escola chamado Humberto Tremedeira. Esse atazanava alunos indefesos tais como o próprio Pauly, de apenas onze anos. Humberto tinha cartoze anos e já se dizia um valentão. Era filho de uma das cantineiras da escola chamada Anízia e um traficante, o Zeca do ABC. Todos negros da periferia paulistana. Temendo o tal Tremedeira, Pauly corria assim como diabo foge da cruz para não ser abordado pelo iniciante de Crack. Quando Tremedeira via Pauly, implicava com a falta de coragem do garoto, com zombarias tais como maricas, franguinho,garotinha entre outras classificações. Apavorado, Pauly se recolhia na sala de aula para não ver a Gangue do Mal, liderada por Tremedeira.

Um dia Pauly resolve enfrentar Tremedeira e o procura para um confronto. O negrão começa irritando Pauly. Pauly não aceita e corre de medo. Para se defender Pauly empurra Tremedeira e o mesmo revida juntamente com os colegas de gangue. Irritado, Tremedeira joga Pauly no lixão. O garoto desmaia, mas depois se recompõe. A escola inteira assiste a cena indignada com o ato de violência da Gangue. Tremedeira é expulso da escola. Anteriormente, foi suspenso mais de dez vezes por delinqüência na escola. O pai ameaça espalhar terror na escola caso não aceitassem o filho novamente. D. Vitória Régia, mãe de Pauly quer justiça pelo filho. Em conseqüência do incidente, Pauly fica paraplégico, pois foi muito injuriado pelos deliquentes. A família de Tremedeira é obrigada judicialmente a prestar assistência ao garoto deficiente físico, após julgamento do pai de Humberto culpado por planejar juntamente com o filho no possível assassinato de Pauly, maior repulsa da Gangue, desde que eram vizinhos. Zeca foi preso por tráfico e por envolvimento ideológico no caso de Pauly. Logo foi solto na condição de assistente do menor acidentado, mesmo não sendo amigo de Paulo Borges, pai de Pauly. Borjão também é policial e reprova a condição de vida de José Ribas Cordeiro, o Zeca do ABC, preso pelo mesmo. Borjão apóia a esposa na decisão da assistência.

Anos se passaram do acidente e Pauly continuou estudando. As fobias ainda o perseguiam bastante. Agora tinha medo de andar na rua com a cadeira de rodas e ser atropelado. No começo, a cadeira foi um grande aprendizado para Pauly, que demoraria a adaptar-se com a nova condição. Teria que superar suas fobias para enfrentar as adversidades do mundo na busca de emprego e no relacionamento interpessoal, pois já sabia que o medo exacerbado não o deixaria viver bem. O medo acabou gerando o acidente que tanto temia.

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